Jogos , Liberdade e Museologia

jogocomoexpressaoliberdadeOntem, cumprindo a velha tradição do pai de iniciar o filho no Jogo, mais propriamente no Jogo da  Bola, com nas terras lusas se chama o grande evento desportivo que junta todas a semana milhares de adeptos à volta do hectare de relva, dei comigo a pensar sobre o significado social do Jogo e de como é que a Museologia trabalha esta questão.

Veio-me à memória o velho livrinho de Gustavo Balley, El juego como expresión de Libertad, publicado em 1964, no México, na versão em língua espanhola pelo Fondo de Cultura Económica.

Neste pequeno livro Bally propõe investigar uma imagem do ser humano em comparação com o comportamento animal. Para efectuar essa comparação Balley propõe uma análise do jogo como elemento comum.

O jogo é analisado a partir dos comportamentos instintivo. No entanto o jogo entres os animais apenas acontece em situações de relaxamento. Sem ameaças ou perigos sentidos ou pressentidos.

Segundo Balley em situação de segurança na envolvente imediata as crias e os humanos jogam espontaneamente. É essa espontaneidade que criar a situação de liberdade. O autor usa mesmo e temo “sede de liberdade” para o ser humano.

Ser livre torna-se através do jogo num ato. A liberdade é construída. Ora Belley coloca a seguinte hipótese: Se a liberdade surge da luta contra a coacção, contra a pressão dos outros, significa que essa liberdade não pode existir sem uma determinada ordem. A Ordem é nesse sentido o limite da liberdade. Não se pode ser livre sem essa ordem.

O autor prossegue com a sua reflexão. Sendo que a Liberdade não existe em si como qualquer coisa ou ideia, a Liberdade é construída em processo. Um processo dialético, como se fundamenta na época, numa tensão entre a ordem e a liberdade. Não somos livres. Fazemo-nos livres.

No entanto, para nos fazermos livres necessitamos de ter consciência dos limites dessa nossa liberdade. Temos que saber é que espaço é que podemos construir essa nossa liberdade. A Liberdade é construída dentro dos limites desse espaço.

A ideia chave do autor sobre a relevância do jogo para construção da liberdade é a sua conclusão de enquanto a Liberdade contem aqueles que a constroem, corporizando quem são e o que fazem, a ordem é o processo de organização que lhe confere sentido ou relevância.

O Jogo serve, para os animais e para os seres humanos para construir (treinar) a liberdade de cada um em contexto com o ambiente e com os outros. O jogo treina a adequação ao contexto ao mesmo tempo que amplia as possibilidades de acção. A liberdade confronta-se com a ordem alargando sucessivamente os seus limites.

A Fronteira emerge assim como espaço de conquista da liberdade e a jogo como o processo para o seu treino.

A demonstração da tese passa pela investigação sobre os instintos dos animais, das formas como a coacção natural vai refreando a liberdade, e como através do jogo as crias se vão simultaneamente reconhecendo e testando os sucessivos limites. O jogo como movimento de liberdade e de descoberta das ameaças.

E tudo isto para refletir a forma como a museologia trabalha a questão do Jogo. Recordei-me de que em tempos havia procurado por estas questão e tinha encontrado um interessante site do Museu do Jogo em Segovia, Espanha. Uma proposta de trabalho interessante, que em Portugal encontra uma certa correspondência no Museu Itinerante de Jogos Tradicionais e que procura ir mais além dos “museus de brinquedos”, mas que parece ter ficado em banho maria. Os brinquedos, como objetos intermédios do jogos infantis, que sendo naturalmente relevantes, não mostram os processos. Há ainda alguns sítios que procuram conservar os jogos digitais, como por exemplo em O Museu de jogos Digitais em Amesterdão, mais adequados aos tempos digitais.

A questão que queremos colocar, e aqui temos um desafio interessante para a Museologia é saber como pode preserva os processos de forma a relevar para alem da função lúdica do jogo a sua função libertadora. A sua missão como espaço de liberdade e construção de inovação.

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